Araticum leva Educação Ambiental como forma de regeneração do mundo
- flavioresende

- 19 de nov.
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Trabalhar com algo que se ama e que faz sentido no mundo: o cuidado com a Terra, com a natureza e com as infâncias. Assim nasceu o Araticum Educação Ambiental - projeto da educadora ambiental Rebekah Pedrosa e da cientista ambiental Marina Speroto.
"Acreditamos que conhecer gera encantamento e que a proteção do planeta só acontece quando criamos vínculos afetivos com ele. O Araticum surge dessa vontade de aproximar pessoas da natureza, despertando curiosidade para os ciclos da vida, para o cerrado e para as relações que nos sustentam e das quais fazemos parte", afirma Rebekah Pedrosa.
O sonho delas é contagiar cada vez mais pessoas com esse amor pela Terra, inspirando mudanças de hábitos, de percepção e de forma de viver. "Queremos oferecer às crianças e aos adultos a oportunidade de perceberem-se parte da natureza, de entender de onde vêm os alimentos e para onde vão os resíduos que produzimos. Sonhamos com uma educação que devolva às pessoas o sentimento de pertencimento ao planeta, lembrando que ele é nossa casa comum e que cuidar dele é cuidar de nós mesmas", complementa Marina.

Transformação de comportamentos
É um sonho que passa pela transformação de comportamentos, pela regeneração das relações com o território e pela construção de uma cultura de cuidado e responsabilidade compartilhada. De acordo com Rebekah, o Araticum nasce do desejo de semear esse encantamento e ver, nos pequenos gestos, nas infâncias e nas comunidades, o florescer de um mundo mais consciente e mais conectado com a natureza.
Segundo Rebekah, foi com esse sentimento que, em 2023, foi realizada a primeira Vivência Agroecológica para Crianças no Lago Oeste, no Distrito Federal. Naquele encontro inicial, crianças colocaram as mãos na terra, plantaram, colheram alimentos, e aprenderam, de forma sensível e prática, sobre a regeneração do Cerrado.
"A experiência trouxe brilho nos olhos das crianças e em nós, educadoras, que ali entendemos que estávamos dando forma a um projeto que iria muito além de um encontro ocasional", conta. Assim, o Araticum começou a se consolidar como uma iniciativa comprometida com a educação ambiental viva, aquela em que sustentabilidade não é discurso, mas prática, experiência e transformação.
"Desde então, atuamos em escolas, comunidades, áreas verdes e instituições, sempre com o propósito de cultivar alfabetização ecológica, pertencimento e consciência socioambiental", explica Marina.

Desde o começo, as sócias buscam parcerias que permitam ampliar esse impacto e levar mais pessoas a reimaginar sua relação com a Terra. O Araticum nasce de um encontro entre amor pela natureza, compromisso com o Cerrado e o sonho de construir presentes e futuros mais regenerativos para as crianças, para o Distrito Federal e para o planeta Terra.
Rede de ações contínuas
Hoje, o Araticum desenvolve uma rede de ações contínuas que dialogam com educação, infância, Cerrado e regeneração, valorizando o trabalho coletivo e entendendo que mudanças reais acontecem quando comunidades se mobilizam.
"Estamos chegando à quinta edição da Vivência Agroecológica Araticum, realizada no Jardim de Infância Maloca e no Sítio Geranium, onde crianças vivem experiências que integram agroecologia, arte, Cerrado, brincadeira livre, autonomia e pertencimento", antecipa Rebekah.
Ela conta que, há dois anos, atuam no Centro de Ensino Infantil 3, de Sobradinho, com um projeto ecopedagógico, que tem transformado profundamente a relação da escola com o território, os resíduos, o Cerrado e as práticas regenerativas.
"Já alcançamos mais de 450 crianças desde o início da parceria, e hoje toda a escola respira Cerrado, compostagem, cuidado e pertencimento. É um trabalho diário, construído junto com professoras, colaboradores, gestão, famílias e crianças, mostrando que a regeneração acontece quando cada pessoa se envolve um pouco e todo mundo cresce junto", explica, orgulhosa.
"Também promovemos vivências abertas em áreas verdes de Brasília, como o Araticum no Eixão, que reúne famílias em um espaço público para vivenciar arte, Cerrado, agroecologia, brincadeira livre e o encanto de ocupar a cidade com consciência ambiental. Além disso, realizamos o Arariê, uma parceria com o coletivo Iriê Brincante, integrando brincadeiras, cultura popular, música, movimento e educação ambiental.
Nosso trabalho se fortalece ainda mais nas articulações com organizações e movimentos comunitários, como o Movimento Comunitário do Jardim Botânico, a Associação de Produtores do Lago Oeste, Projeto Filhos da Nação e a Brigada Voluntária Cafuringa. Em cada oficina, formação ou mutirão, levamos práticas regenerativas, compostagem, agroecologia, Cerrado e conscientização sobre resíduos, sempre acreditando que transformações profundas acontecem na coletividade", contextualiza Marina.

As educadoras
Rebekah Pedrosa é educadora ambiental, licenciada em Ciências Naturais pela Universidade de Brasília e mestra em Ciências Ambientais, também pela UnB. Cofundadora do Araticum, dedica sua trajetória ao cultivo de vínculos entre infância, território e Natureza. É Embaixadora Lixo Zero pelo Instituto Lixo Zero Brasil e pós-graduanda em Natureza Educadora: Cultivando Ecossistemas de Aprendizagem.
Já Marina Speroto é cientista ambiental formada pela UnB, atuando como educadora ambiental com foco em agroecologia, arte, Cerrado e gestão de resíduos. Sua formação inclui participação no Núcleo de Agroecologia da UnB (PIBEX) e estudos em Sistemas Agroflorestais com referências como Ernst Götsch, Fabiana Peneireiro, Namastê Messerschmidt e Fernando Rabelo. Marina também é pós-graduanda em Natureza Educador:Cultivando Ecossistemas de Aprendizagem e participou do curso Educação Infantil para Justiça Climática, coordenado pela FURG.
O legado do Araticum
"Contribuímos, de forma prática, para o cuidado com o Cerrado. Plantamos mudas nativas, fortalecemos práticas de agroecologia, devolvemos vida ao solo por meio da compostagem, vivemos cooperando com a natureza. Mas percebemos que a regeneração mais profunda acontece quando transformamos a forma como as pessoas se relacionam com o ambiente", afirma Rebekah.
Muitas crianças chegam acreditando que terra é sujeira, que insetos são perigosos, que restos de comida e sementes são lixo. Quando colocam as mãos no solo, acompanham uma semente brotar, participam de composteiras ou entendem que “não existe jogar fora”, algo muda internamente. Nasce um olhar de cuidado, de curiosidade e de pertencimento, e é esse olhar que molda comportamentos conscientes.
Um exemplo marcante é o da professora Victória, do CEI 3. Depois das aulas do Araticum sobre resíduos e Cerrado, ela deixou de usar EVA e plásticos nas atividades pedagógicas e também transformou sua vida pessoal. No aniversário dela teve gestão de resíduos. Reduziu ao máximo a produção de lixo: não utilizou descartáveis nem balões, a decoração foi feita com papel, pratos e copos reutilizáveis e pediu que cada convidado cuidasse do resíduo que produzisse. Sua mudança impactou as crianças, a equipe escolar, sua família e toda a comunidade ao redor. Isso é regeneração cultural acontecendo na prática.
No CEI 3, essa transformação se tornou visível: hoje, toda a escola gira em torno do Cerrado, do cuidado com o território e de decisões diárias que levam em conta o impacto ambiental. O sentimento de pertencimento floresceu, e as crianças reconhecem que cuidar da Terra é cuidar de si mesmas.
"É assim que entendemos a importância do Araticum: regeneramos ecossistemas, mas também regeneramos vínculos, entre pessoas, território e natureza. Nosso trabalho reacende o encantamento, desperta responsabilidade e planta sementes de um presente mais consciente, mais afetivo e mais vivo", pontua Marina.
Planos para 2026
Para 2026, o Araticum sonha grande e sonha com raízes profundas no Cerrado. "Nosso horizonte é ampliar o impacto que já estamos construindo e alcançar ainda mais territórios, vidas e ecossistemas. Queremos captar recursos para expandir o Araticum para mais escolas públicas, formando novas comunidades educativas que reconheçam o Cerrado como casa e a Natureza como professora. Desejamos alcançar não só as crianças da primeira infância, mas também adolescentes, jovens e adultos de suas famílias, ampliando o círculo do pertencimento ecológico e promovendo uma educação ambiental que transborde para o território, para as casas, para as ruas e para as práticas cotidianas", enfatiza Rebekah.
Um dos maiores compromissos do Araticum é atuar de forma mais estruturada com comunidades vulnerabilizadas, fortalecendo o diálogo entre educação ambiental e justiça climática. "Queremos levar a vivência com a natureza para crianças que têm seu direito ao brincar e ao verde negado, criando oportunidades de regeneração das infâncias e das relações com a Natureza", pontua Marina.
Entre nossos sonhos mais desejados das duas está a concretização da Sede Araticum, um espaço próprio no coração do Cerrado onde elas possam desenvolver a agrofloresta, oficinas, viveiro, atividades pedagógicas e vivências com a natureza. Será um espaço para viver a alfabetização ecológica de forma integral: plantar, colher, regenerar, compor, brincar, estudar, cozinhar, aprender e ensinar com a natureza, em comunidade.
"Também queremos fortalecer a cadeia de circularidade em nossas práticas, compostando mais resíduos junto às escolas e comunidades, transformando restos orgânicos em adubo, devolvendo vida ao solo e distribuindo adubo e produzindo mudas para que cada família possa criar seu próprio pequeno Cerrado", complementa Marina.
No mais, elas seguirão oferecendo vivências, oficinas, trilhas e formações em espaços naturais e instituições, assim como ampliando colaborações com escolas particulares e organizações que desejam incorporar a natureza em seus ambientes ou levar seus grupos para experiências educativas ao ar livre. "Nosso compromisso permanece o mesmo desde o primeiro dia: viver aquilo que ensinamos", destaca Rebekah.
"O Araticum é movimento, regeneração e amor pela Terra, e em 2026 queremos florescer ainda mais, levando esse amor a novos territórios, novas infâncias e novas sementes", sintetiza.
Como achar o Araticum
Quem quiser conhecer o projeto pode nos encontrar no Instagram @araticum.ea, onde elas compartilham todas as ações, atividades e agenda. Também atendem via WhatsApp, disponível a partir do contato pelo próprio Instagram.
"Para nós, educação ambiental é sobre pertencimento, encantamento, amor pela natureza e mudança de comportamento. É um processo que transforma quem participa e transforma também quem conduz, porque nós, educadoras, aprendemos e somos tocadas diariamente. A cada vivência, descobrimos uma espécie nova, nos surpreendemos com perguntas das crianças, sentimos o Cerrado nos ensinar e percebemos que também somos educadas ambientalmente todos os dias. Ver crianças guardando caroços de fruta para plantar, recusando jogar algo fora sem pensar, reconhecendo o Cerrado como casa, é a prova de que esse trabalho é revolucionário. O Araticum é feito com muito amor, impacta muitas vidas e nos impacta profundamente de volta", finaliza Marina.










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