
Economia Regenerativa
A Economia Regenerativa é um novo paradigma que propõe ir além da lógica extrativista e predatória da economia convencional, buscando alinhar atividades humanas aos ciclos vivos da Biodiversidade. Diferente da economia tradicional, que enxerga a natureza como recurso a ser explorado, a economia regenerativa entende os ecossistemas como sistemas vivos interdependentes dos quais fazemos parte, e que precisam ser continuamente nutridos para que a vida floresça em todas as dimensões: ambiental, social, econômica e cultural.
O conceito representa uma evolução das reflexões sobre sustentabilidade e desenvolvimento econômico. Enquanto a economia tradicional se orienta pelo crescimento contínuo e pela maximização do lucro, frequentemente em detrimento dos sistemas sociais e ambientais, a economia regenerativa propõe um modelo que restaura e fortalece os ecossistemas vivos dos quais depende. Nesse sentido, ela se coloca como uma resposta às múltiplas crises contemporâneas — climática, social, econômica e espiritual — propondo uma reorganização das atividades humanas a partir da lógica da vida.
🌱 Origens e Pensadores
O termo e o conceito começaram a ganhar força a partir dos anos 2000, inspirado em diversos pensadores e movimentos:
John Fullerton (ex-executivo do JP Morgan e fundador do Capital Institute), que sistematizou os 8 Princípios da Economia Regenerativa, destacando valores como interdependência, diversidade, fluxo circular de recursos e saúde dos sistemas.
Carol Sanford, consultora e autora, que difundiu a ideia de organizações regenerativas, defendendo que empresas podem ser motores de transformação social e ecológica.
De modo geral, a Economia Regenerativa pode ser entendida como um sistema econômico que busca alinhar-se aos princípios dos sistemas vivos, promovendo interdependência, circularidade, diversidade e resiliência. Diferente da sustentabilidade, que visa apenas a “manutenção” dos recursos existentes, a regeneração implica em curar, restaurar e potencializar a vitalidade dos ecossistemas naturais e sociais.
Em outras palavras, o conceito é ancorado por oito pilares:
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Restauração de ecossistemas:
A economia regenerativa busca reverter danos ambientais, promovendo a recuperação de ecossistemas degradados e a restauração da biodiversidade.
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Bem-estar social:
Além do aspecto ambiental, a economia regenerativa visa o bem-estar das pessoas, promovendo a justiça social, a equidade e a inclusão.
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Economia circular:
A economia regenerativa se alinha com a economia circular, que busca minimizar o desperdício e manter os recursos em uso pelo maior tempo possível.
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Colaboração e aprendizagem:
A economia regenerativa enfatiza a colaboração entre diferentes atores (empresas, governos, comunidades) e a aprendizagem contínua para promover a inovação e a adaptação.
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Valores e princípios:
A economia regenerativa se baseia em valores como justiça, equidade, resiliência e respeito pela natureza.
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Negócios regenerativos:
Empresas regenerativas buscam gerar valor para o meio ambiente e a sociedade, além do lucro, adotando práticas que contribuem para a restauração de ecossistemas e o bem-estar social.
Diferença entre economia regenerativa e sustentabilidade:
Enquanto a sustentabilidade busca minimizar o impacto negativo, a economia regenerativa vai além, buscando ativamente restaurar e revitalizar os sistemas sociais e ecológicos. Em outras palavras, a sustentabilidade é um ponto de partida, enquanto a economia regenerativa é um objetivo.
No que diz respeito aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs) da ONU, a Economia Regenerativa contempla os ODS 3 (Saúde e Bem estar), 5 (Igualdade de Gênero), 6 (Água Potável), 7 (Energia Limpa e Acessível), 8 (Trabalho Descente e Crescimento Econômico), 11 (Cidades e Comunidades Sustentáveis), 12 (Consumo e Produção Responsáveis), 13 (Ação contra a Mudança Global do Clima), 14 (Vida na água), 15 (Vida Terrestre) e 16 (Paz, Justiça e Instituições Eficazes).
Na prática, o conceito pode ser visualizado de diversas maneiras:
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Agricultura regenerativa: Práticas agrícolas que visam melhorar a saúde do solo, aumentar a biodiversidade e reduzir o uso de produtos químicos.
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Energia renovável: Uso de fontes de energia limpa e renovável, como solar, eólica e hidrelétrica.
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Cadeias de produção com baixo impacto ambiental: Criação de produtos e serviços que minimizam o desperdício e o uso de recursos naturais.
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Desenvolvimento de tecnologias limpas: Inovação e adoção de tecnologias que contribuem para a restauração ambiental.
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Finanças regenerativas: Investimento em projetos e negócios que geram impacto positivo para o meio ambiente e a sociedade.
Fonte: Site Ideias Sustentáveis
No artigo científico Measuring regenerative economics: 10 principles and measures undergirding systemic economic health (“Medindo a economia regenerativa: 10 princípios e medidas que sustentam a saúde econômica sistêmica”, em tradução livre), pesquisadores de instituições e universidades dos EUA e da Áustria comentam que:
“A vitalidade econômica repousa em primeiro lugar na saúde das redes humanas […] que fazem todo o trabalho e nas redes ambientais […] que alimentam e sustentam todo o trabalho.”
Os autores seguem argumentando que a saúde de uma economia depende da manutenção de toda a rede de sistemas socioeconômicos interconectados: indivíduos, empresas, comunidades, cidades, cadeias de valor, sociedades, governos e a biosfera:
“Um metabolismo econômico saudável deve ser “regenerativo”, ou seja, deve continuamente canalizar recursos para processos internos autoalimentados, autorrenováveis e autossustentáveis.”
Para o Instituto Regenera, há muitas iniciativas e oportunidades que apontam soluções nesta direção e que precisam estar conectados em rede para que haja uma transformação mais consistente da vida em sociedade.
Acreditamos que seja possível criar ferramentas, produtos e saberes que fortaleçam a economia regenerativa. Para isso, nascemos e esperamos, de verdade, inspirar mais pessoas a caminharem com a gente, neste propósito.
* Diretores do Instituto Regenera.
